domingo, 10 de janeiro de 2016

A vida acima do lucro

Pe. Geraldo Martins

A tragédia causada pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco Mineradora, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, remete-nos à Encíclica do papa Francisco – Laudato Si – sobre o “Cuidado da casa comum”. Neste documento, o papa chama nossa atenção para a destruição do planeta por causa da ação humana que, “a serviço do sistema financeiro e do consumismo, faz com que a terra onde vivemos se torne realmente menos rica e bela, cada vez mais limitada e cinzenta” (LS, 34).

A atividade mineradora se coloca nesse contexto na medida em que é regida por leis que favorecem o lucro astronômico das empresas ao preço da degradação do meio ambiente e do desrespeito aos direitos das populações atingidas pela mineração.

Em 2013, a CNBB publicou uma carta aberta sobre a mineração no país, mostrando sua preocupação com os impactos causados por esta atividade tão cobiçada. “A exploração mineral é uma atividade que provoca impactos em povos, comunidades e territórios, gerando conflitos em toda sua cadeia: remoções forçadas de famílias e comunidades; poluição das nascentes, dos rios e do ar; degradação das condições de saúde; desmatamento; acidentes de trabalho; falsas promessas de prosperidade; concentração privada da riqueza e distribuição pública dos impactos; criminalização dos movimentos sociais; descaracterização e desagregação sociocultural”.

Diante da tragédia em Bento Rodrigues, a Conferência dos Bispos volta a se pronunciar sobre o tema e denuncia a sede de lucro das empresas em detrimento da vida em todas as suas dimensões. Afirma a nota da CNBB: “As vidas dos trabalhadores e moradores tragadas pela lama, bem como a fauna e flora destruídas exigem profunda reflexão acerca do desenvolvimento em curso no país. É preciso colocar um limite ao lucro a todo custo que, muitas vezes, faz negligenciar medidas de segurança e proteção à vida das pessoas e do planeta. Com efeito, lembra-nos o Papa Francisco que “o princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceitual da economia” (Laudato Si, 195)”.

Vários municípios de nossa Arquidiocese convivem, há décadas, com empresas mineradoras que somam enormes lucros. Não obstante os municípios serem beneficiados com os tributos advindos desta atividade, o ônus é muito maior e tem impacto tanto na vida das pessoas quanto no meio ambiente. Preocupado com isso, em 2013, nosso arcebispo, Dom Geraldo Lyrio Rocha, divulgou uma declaração em que revela sua preocupação com os impactos da atividade mineradora e industrial na arquidiocese.

Vale a pena recordar um trecho desta declaração nesse momento. “Toda atividade mineradora e industrial deve ter como parâmetro o bem estar da pessoa humana, buscando a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável das riquezas naturais. É preciso empregar todos os esforços para manter viva a natureza, preservar os mananciais e as nascentes, garantir o habitat dos seres vivos e defender as espécies ameaçadas de extinção”.

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