quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O mistério que se revela

Pe. Geraldo Martins

O evangelho a ser proclamado na liturgia do próximo domingo (19/12) nos coloca diante de duas figuras importantes neste tempo do advento, já bem próximos do natal. Elas, no entanto, não pronunciam uma só palavra. Ambas vivem, no silêncio, situações cuja compreensão se lhes escapa por transcenderem a realidade humana. Cabe a Deus intervir para revelar que escolhera os dois para comunicar ao mundo a grandeza de seu infinito amor pela humanidade e por todas as suas criaturas. Estamos falando de Nossa Senhora e São José, que nos fazem mergulhar no mistério da encarnação de Deus a ser celebrado no natal.

Maria é noiva de José e está grávida pela “ação do Espírito Santo”. José, que é “justo”, não quer difamá-la nem denunciá-la e resolve deixá-la “em segredo” (cf. Mt 1,18s). Deus intervém, por meio de seu anjo, esclarece a situação, mostra que Ele mesmo é o protagonista de tudo o que se passa com o casal e revela o papel de Maria e José nestes fatos que mudaram a história da humanidade.

Para quem o evangelista quer chamar nossa atenção: para Maria, que traz no seu ventre o mistério da encarnação de Jesus Cristo? Para o Verbo Encarnado, presente no seio de Maria? Ou para José cuja missão é revelada a partir desta visita de Deus?

O centro de tudo é, sem dúvida, o mistério da encarnação divina, isto é, Jesus, que, no ventre da virgem Maria, assume a vida humana, “divinizando o humano e humanizando o divino”. Maria e José, no entanto, nos ajudam a mergulhar mais profundo neste mistério. Maria porque se faz “serva do Senhor”, acredita e acolhe, sem nenhuma resistência, a promessa feita por Deus de que ela conceberia pelo Espírito Santo e daria à luz o Salvador (cf. Lc 1,26-38). Ela é a virgem que concebe e dá à luz o Emmanuel, conforme profetizou Isaías (Is 7,10-14). “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45). Este é o grito que brota do coração de Isabel ao reconhecer o mistério escondido no ventre de Maria.

José, por sua vez, nos ajuda a contemplar o mistério da encarnação quando reconhece e aceita a manifestação de Deus em sua noiva. Como Maria, ele também diz “sim” ao plano de Deus e faz tudo “conforme o anjo do Senhor havia mandado” (cf. Mt 1,24). Ele recebe Maria como esposa e, consequentemente, assume a paternidade de Jesus. Está constituída, na terra, a família do Filho de Deus.

A missão de jogar luz neste sublime mistério que celebramos no natal agora é de cada um de nós. Como Maria e José cabe-nos dizer “sim” a Deus e ser sinal que aponta para Verbo encarnado, que continua a armar sua tenda na terra para morar entre nós. Aos inúmeros irmãos e irmãs que perderam o sentido da vida ou que sofrem sob o peso da desigualdade, da miséria, da fome, da exclusão devemos apresentar o Cristo que vem no natal, identificado com os pobres e sofredores para libertá-los de seus sofrimentos.

O natal nos conclama, então, a fazer com que Jesus se constitua a razão e o sentido da vida de cada pessoa. Somente nele os povos terão renovada sua esperança e sua alegria. O “sim” de Maria e José nos mostra que eles entenderam isso de forma espetacular. Oxalá neste natal pudéssemos confirmar as palavras dos bispos da América Latina e Caribe: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29).


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