quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Escola Estadual Abre Campo é reformada e ganha novas instalações

Pe. Geraldo Martins

Obra começou em janeiro de 2009, foi concluída em outubro passado e custou mais de R$ 800 mil.

A pequena e aconchegante cidade de Abre Campo, distante 220 km da capital mineira, está em festa. Serão inauguradas nesta sexta-feira, 17, a reforma e a ampliação do prédio da Escola Estadual Abre Campo, uma obra que custou pouco mais de R$ 800 mil, além de muita luta e suor por parte de seus diretores e responsáveis. Foi uma vitória da perseverança. Uma missa rezada pelo pároco da cidade na igreja de Sant’Ana, próximo à escola, antecipou o início das festividades de inauguração da obra. A celebração foi também em ação de graças pelos formandos do ano.

Criada 1955, a esco
la nasce com o nome de “Ginásio Abre Campo”, filiada à Campanha Nacional de Estudos Gratuitos (CENEG). Em 1967, passa a se chamar “Colégio Comercial Abre Campo” e, antes de se tornar estadual, em 1996, se torna Escola da Comunidade Abre Campo. A luta das últimas diretoras pela estadualização da escola, compra do prédio e sua necessária ampliação e reforma é contada aqui pela atual diretora, Vanda Martins Dias de Paiva, que há dez anos dirige o estabelecimento de ensino.

“Dentre tantos desafios que tivemos, o maior talvez tenha sido o de manter o mesmo padrão de ensino. Sentimos que nossos alunos produziram menos neste período. Outro grande desafio foi a ansiedade vivida: “será que vamos conseguir vencer?” Mas valeu a pena. Sinto que a população da cidade (os que aqui estão e que se foram e voltam só para visitá-la) está muito satisfeita”, conta, satisfeita, a diretora.

Desde que f
oi construído, em 1961, o prédio nunca havia passado por reforma tão ampla como a que será inaugurada amanhã. Foram construídos laboratório, refeitório, área de serviço e uma quadra poliesportiva coberta. Outros espaços foram melhorados e as pessoas com deficiência não terão mais problemas de acesso a locais como, por exemplo, os banheiros.

A diretora não se esquece do apoio que recebeu da comunidade escolar e da população da cidade. “O pároco local cedeu salas do Centro Pastoral Paroquial, que se tornara
m salas de aula, nos três turnos, durante oito meses. Os funcionários sacrificaram-se intensamente, pois muita coisa precisou ser improvisada. As aulas de Educação Física, por exemplo, eram ministradas na pracinha da Igreja e sempre tínhamos visitantes para bater peteca ou jogar bola, como que solidários e amigos da gente”, relembra.

Atualmente a escola tem 1079 alunos matriculados e emprega 84 funcionários (16 auxiliares de serviço gerais; três professores para o ensino do uso da biblioteca; um supervisor pedagógico; dois orientadores educacionais; uma secretária; uma contadora; seis auxiliares de secretaria; 52 professores; dois vice-diretores e
uma diretora).

Leia, abaixo, a entrevista com a diretora contando a história da escola e da reforma que será inaugurada nesta sexta-feira, 17.

1. Vanda, conte, brevemente a história da Escola Estadual Abre Campo.
Vanda: Em 1955 as autoridades da cidade perceberam que os municípios vizinhos (Matipó e Rio Casca, por exemplo) já possuíam escolas que ministravam aulas além do 4º ano. Com o prefeito da época, começaram a se articular para criar o colégio também aqui. Assim, no dia 1º de maio de 1955, no Salão Nobre da Prefeitura Municipal, foi fundado o educandário filiado à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CENEG), constituindo-se uma diretora provisória. Três meses depois, no dia 8 de agosto, inaugurou-se o Ginásio de Abre Campo, que passou a funcionar provisoriamente no Grupo Escolar “Dom João Bosco”, tendo como primeiro presidente Dr. Pascoal Grossi. Em 1967, passa a se chamar Colégio Comercial de Abre Campo.

2. E qual a história do atual prédio?
Vanda:
O juiz de direito da comarca, Dr. Diógenes Araújo Netto, que ainda vive, foi um dos esteios neste empreendimento d
e fundar em Abre Campo um estabelecimento de 1º e 2º graus, mantido pela CENEG. Depois que a escola começou a funcionar no Grupo Dom Bosco, ele visitou Divino de Carangola e de lá veio a arquitetura modelo para construção do prédio. Era um padrão comum a todas as escolas da Comunidade àquela época. A escola se estruturou com força e seu prédio começou a ser construído em 1961. O Ginásio mudou para o atual endereço em 1963. Quatro anos depois, em 1967, a Prefeitura faz a doação do prédio e do terreno à CENEG.

3. Quais foram os primeiros cursos e como era a sustentação do colégio?
Vanda:
No dia 3 de março de 1963, teve início o Curso Normal, com o título de Curso para Formação de Professores e, no dia 11 de setembro de 1966, foi fundado o Curso Técnico em Contabilidade. A escola sempre foi dinâmica e passou a ser Escola da Comunidade Abre Campo. Os
alunos que não podiam pagar ganhavam bolsas ora da prefeitura, ora de deputados, ora da própria CNEC. Já nos anos 90, percebendo a necessidade de ampliar as oportunidades, a Escola foi estadualizada pelo então prefeito Dr. Davis Antonio Cardoso, em agosto de 1996, e os alunos não mais precisavam pagar por seus estudos. A escola teve sua regularização legal para funcionamento como Escola Estadual “Abre Campo” em 14/10/97.

4. Que mudanças isso trouxe?
Vanda:
Houve muita mudança: vagas ampliadas, professores concursados (não mais indicados), maior aproximação de pais e comunidade na escola. Em 1999 tivemos os últimos cursos profissionalizantes.

5. E como ficou a questão do prédio, que não era do Estado, e precisava de reformas?
Vanda
: Apesar das muitas conquistas (ampliação de vagas, mais oportunidades de empregos, maior autonomia e aquisição de recursos financeiros), o prédio continuou pertencendo à CNEC. Além disso, estava em péssimo estado. Era cobrado um aluguel exorbitante. Então a primeira diretora da E. E. “Abre Campo”, Madalena Gomes Dias, começou a luta
pela aquisição e reforma do prédio, mas a CNEC não mostrava interesse em vendê-lo. Assim a diretora fez pequenos reparos com ajuda da comunidade e da Prefeitura.

6. Sua primeira gestão começou nesse período, em 12 de dezembro de 2000. Que iniciativas tomou em relação a isso?
Vanda:
Iniciei também a luta para aquisição do prédio. Foram muitas idas e vindas a Belo Horizonte, à CNEC, à Secretaria Estadual de Educação (SEE/MG) e à Assembléia Legislativa.

7. Você recebeu algum apoio? Que dificuldades enfrentou?
Vanda: Sim, fui apoiada por prefeitos, vereadores e, especialmente, pela Superintendente de Ponte N
ova, Ana Maria Gomes, nossa conterrânea. Havia muita burocracia, impasse, indiferença por parte daqueles de quem dependíamos. Quando se abriu a possibilidade de negociação tudo mudou e o Estado manifestou possibilidade de adquirir o imóvel. Depois de longo processo, o prédio foi adquirido, em junho de 2007, por R$ 333.391,67.

8. A partir daí começou a luta por sua reforma e ampliação...
Vanda: Exatamente. Em outubro de 2008, após aprovação da planilha enviada à SEE, recebemos R$ 542.635,99 para reforma e ampliação. Em fevereiro deste ano, recebemos mais R$ 263.670,07 para refazer a rede elétrica e trocar o telhado.

9. Em que consistiu a obra?

Vanda:
Ampliamos o prédio com a construção do laboratório de ciências, refeitório, área de serviço e uma quadra poliesportiva coberta. Além disso, melhoramos todos os outros espaços e adaptamos nossos banheiros e outros espaços para o portador de necessidades especiais.

10. Isso dá mais de R$ 800 mil. E o processo da obra, como foi?
Vanda:
Neste período foram muitos desafios, mas pudemos contar com o apoio de todos. O pároco local cedeu salas do Centro Pastoral Paroquial, que se tornaram salas de aula, nos três turnos, durante oito meses. Os funcionários sacrificaram-se intensamente, pois muita coisa precisou ser improvisada. As aulas de Educação Física, por exemplo, eram ministradas na pracinha da Igreja e sempre tínhamos visitantes para bater peteca ou jogar bola, como que solidários e amigos da gente. Todos que passavam pela rua percebiam as nossas dificuldades e sempre se manifestavam sua palavra de apoio e entravam para uma eventual visitinha.

11. Houve algum acidente neste período?
Vanda: Não. A equipe dos pedreiros foi sempre muito zelosa, cautelosa, precavida e organizada para evitar que ocorresse algum acidente acorresse.

12. Foi fácil tocar uma obra dessas por tanto tempo sem parar a rotina de aulas, trabalho etc?
Vanda: Dentre tantos desafios que tivemos, o maior talvez tenha sido o de manter o mesmo padrão de ensino. Sentimos que nossos alunos produziram menos neste período. Outro grande desafio foi a ansiedade vivida: “será que vamos conseguir vencer?” Mas valeu a pena. Sinto que a população da cidade (os que aqui estão e que se foram e voltam só para visitá-la) está muito satisfeita. Posso considerar que a obra foi sim, nos últimos tempos, nosso maior desafio, porque, paralelo a ela, muita coisa vem acontecendo, muita mudança, muitas propostas da Secretaria de Educação e, verdadeiramente, a cada dia vencido, ficou a sensação e a certeza de que aprendemos um pouco mais.

13. Você e sua equipe, ao enfrentar tudo isso, dão uma demonstração de que acreditam na educação. Como você vê a educação hoje?
Vanda:
Num âmbito geral, estamos avançando, mas ainda falta muito. Percebo que estamos precisando de profissionais mais qualificados para lidar com o jovem do século XXI e também que ainda há muito tradicionalismo por parte de alguns. Sinto que os baixos salários desestimulam boa parte de nós, profissionais, e que precisamos dedicar a cada dia ao aprofundamento de estudos capacitando-nos ainda mais.
Outro fator que dificulta a educação é a famílias em crise e os pais que acreditam pouco no próprio filho ou mesmo na escola. Apesar de tudo, considero que “gente precisa de gente” e que somos chamados para ensinar e, através do ensino, transformar vidas.


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